O empreendedor
Um guri que é empreendedor e faz muito mais pela sociedade do que eu. E é o Neco de apenas 13 anos. Um neguinho visionário do Morro do Céu.
Num quintal com romãs
Ela afirmou, quando perguntada sobre sua cor, que não é negra, não se identificando com a mobilização da causa afro-descendente. Ela diz que é bugre, de família misturada do sul do estado. Quando perguntei sobre o marido, respondeu: - "Ah sim, ele é um negão lindo, tu acha que eu ia deixar escapar?".
Além de firmes opiniões, ajuda um monte de gente. D. Rosa, ensinadora de encantos.
E tem Ed Soul nazárea
Bernunça tem filhotes
Na escadaria do Tico-Tico
Com Téta não tem migué
Ele faz parte de uma geração que viveu uma infância livre na encosta oeste do Maciço, onde o mato tomava conta, e prevalecia o futebol, a música, a camaradagem. Depois, viu a comunidade se transformar, ele mesmo, um contraventor arrependido, sente falta do clima do passado. Mas não sai dali de jeito nenhum, nem se ganhar na mega-sena.
O prato predileto do Téta é cocoroca frita com farinha. Uma cosa! Hehehehe.
Dona Maria é "Gente Amiga"
Encontramos D. Maria, em frente ao centro espírita "Gente Amiga", e desses encontros ao acaso filmamos a conversa, maravilhosa. O neguinho ao lado da Shau se apaixonou pela nossa assistente braço-direito, e se ofereceu a ajudar com o rebatedor.
Não foram poucas as vezes que a molecada chegou junto (claro, de vez em quando falando demais), se dispondo a ajudar de qualquer forma, segurando guarda-sol, cuidando da rua, tirando fotos still... A atração pelo equipamento nas crianças é absurdo.
E D. Maria nos contou sobre como conseguiu criar seus filhos, no morro do Horácio, com dignidade, recebendo o salário mínimo de faxineira.
Passando pelo Xeca-Xeca
Cosmética do entulho
O termo cosmética da fome, cunhado pela pesquisadora Ivana Bentes, diz justamente sobre uma estética onde o campo imagético da pobreza do Brasil é revelado pelas lentes dos cineastas, talvez de uma forma pejorativa, pelo fato destes pertencerem a uma elite (intelectual) e o mundo retratado não vem da intimidade do realizador.
Por outro lado, Jean-Claude Bernadet se incomoda com este termo, observando que a arte não se isenta de finalidades, portanto o termo provém de uma idealização romântica. Aqui, no Maciço, eu poderia cunhar um novo termo, o da "cosmética do entulho", e entrar no campo da autocrítica para entender melhor o porquê de fazer este documentário.
Esta foto diz tudo. O que eu não quero, é que uma cosmética do entulho faça parte de minhas escolhas finais na montagem do documentário. Eu quero é registrar o mundo de alguns moradores de Florianópolis, que têm muito a dizer. Só isso.
Histórias que se cruzam
A partir daí, uma rede foi criada, e dos principais, fomos encontrando dezenas de personagens com histórias de vida e opiniões tão interessantes, que se cruzavam. A equipe portanto tratou de seguir essa rede. E dentro das imagens que captamos nos morros, uma das mais significativas é esta, do poste dos fios de luz, das rabiolas de pipas e dos gatos, símbolos do crescimento urbano e das memórias coletivas.
A voz que vem da alma
Pedimos uma palhinha prá ela cantar. Ficou um pouco tímida, e quando soltou a voz, tive que me conter enquandrando a câmera 2. Mas no fim da entrevista, me fez chorar. Apenas uma lágrima, pois sabia que precisava de forças prá continuar a produção, mas ao mesmo tempo sabendo que aquele encontro foi único, e precisava de mais, de mais tempo com ela, de querer acompanhá-la no dia a dia.
A encontramos no curso de estética afro ministrado na sede do colégio marista, embaixo da paróquia do Padre Vilson. E o que ela cantou, não foi um rap, nem um gospel, nem um charm, simplesmente veio da alma.